O que eu aprendi sobre acumulação de capital assistindo Keeping Up with the Kardashians

A origem das grandes fortunas em mais de 300 episódios


Este foi um ano difícil. Depois que eu me dei conta que só assisto série de branco, cheguei a mais uma conclusão difícil de aceitar: eu havia dedicado quase um terço da minha vida a maior de todas as série sobre privilégio branco da história da humanidade: Keeping Up with the Kardashians.


Eu não só havia gasto mais de 10 anos da minha vida keeping up a vida da dinastia do klã Kardashian-Jenner, eu havia consumido todos os spin-offs da série, lido todas as fofocas, comprado produtos e dedicado horas intermináveis em debates com outros fãs da série. 

Desolada em saber que com este mesmo número de horas eu poderia ter construído casas, feito trabalho voluntário ou outro curso universitário, eu precisava fazer e realizei uma análise econômica profunda sobre o que aprendi sobre acumulação de capitais assistindo a vida de minas brancas e ricas de Calabazas.

A origem das grandes fortunas


Em 2016 o Peterson Institute, centro americano de pesquisas econômicas, mostrou em uma pesquisa que a maioria das grandes fortunas americanas é formada por empresários e fundadores de empresa, em contrapartida a herança como a maior fonte de riquezas dos super-ricos na Europa e na América Latina. 

No caso das Kardashians elas acumulam ambas as fontes de enriquecimento. Filhas do advogado Robert Kardashian, famoso por ter atuado no caso OJ simpson, elas já nasceram num berço de prosperidade. E antes de ficarem famosas já possuíam capital social para circular entre os ricos e famosos e aumentar seu patrimônio cultural. Outro ponto importante é a acumulação de riqueza através dos casamentos. Como pudemos acompanhar na última décadas, as Kardashians se casar com parceiros e parceiras que também era milionários, tornando seus herdeiros ainda mais ricos do que a geração pioneira.

O papel da sorte nos negócios


Kris Jenner a matriarca e gerente da família, começa a potencializar seus negócios ao se casar com Bruce Jenner (atualmente Caitlyn Jenner), que na época era um milionário atleta olímpico que passou, sob os cuidados de Kris, a ganhar dinheiro fazendo palestras motivacionais, até que um crime muda a trajetória desta família e projeta ao infinito o seu poder de acumulação de capital: uma sex tape de Kim Kardashian e seu ex-namorado é lançada ao público e de uma transação financeira entre a Kris Jenner e a empresa Vivid Entertainment, produtora de vídeos adultos e a consequente criação de um reality show, seus destinos são selados e a família passa a fazer parte do mercado de varejo aumentando seu alcance para milhares de pessoas.

Negócio familiar


A ideia de criar um reality show contando a história da família veio da matriarca e na época foi aceito pelos filhos como uma forma de divulgar seus outros negócios e rentabilizar com publicidade. As irmãs tinham uma marca de roupa e achavam que o negócio traria visibilidade para a marca. Mas o que elas não esperavam é que suas vidas se tornariam seus grandes commodities e que o laço familiar seria uma fonte de dinheiro. Criar um negócio familiar baseado em ser uma família é lucrar de forma é uma forma genial e infinita de produzir e acumular capital.

Diversidade de ativos


O francês Thomas Piketty, economista e autor do Capital no Século XXI onde faz a uma crítica ao marxismo perante o cenário do capitalismo moderno, afirma que a tese de acúmulo infinito de capital de Marx não haveria se concretizado neste estágio do capitalismo dada a hiper contração de riquezas. Provavelmente Thomas não assiste o reality show, pois saberia que é uma antítese a sua crítica. Além de acumularem e monopolizarem o mercado dos reality shows e da cultura pop, elas ainda multiplicaram de forma quase infinita as possibilidade de ganhos com suas imagens. Potencialmente as Kardashian podem ganhar dinheiro com absolutamente qualquer coisa e possuem uma imensa cartela de ativos. Cada membro da sua família é um produto em si que pode ser vendido no varejo em diferentes aspectos e produtos. Meias, calças jeans, imóveis, programas de TV, ações de hamburguerias, maquiagem, palestrar, o fato é que qualquer um liderados por Kim Kardashian, grande totem da capitalização,qualquer pessoa ou produto a ser um grande sucesso no varejo.

Apropriação cultural e diversidade real


No caso das Kardashian é bastante complicado estabelecer os limites da apropriação cultural. Mas o fato é que das grandes fortunas vem justamente da utilização de tecnologias, saberes e identidades de outras culturas para criar produtos e ganhar dinheiro. É inegável que as Kardashians, até mesmo por uma aproximação, se apropriaram de símbolos e imaginários da cultura preta num clássico blackfishing para consolidar sua marca e ganhar mais dinheiro.



PORÉM, Keeping Up with the Kardashian é um dos produtos de entretenimento em massa atuais que tem maior diversidade real. Brancas fazendo blackface, pretos, jovens, adultos, transsexuais, gordos, mães jovens, vários tipos humanos, todos milionários. Enquanto empresas falham miseravelmente em reproduzir a diversidade, a família Kardashian-Jenner já está projetada para o futuro com uma nova geração de personagens: crianças pretas, milionárias demonstrando o poder do young money da terceira geração.

Keeping Up with the Kardashian não é apenas um dos melhores e mais consistentes produtos de entretenimento, mas também um grande símbolos do capitalismo e seu desenvolvimento e o poder de acumulação do capital. Só espero que no futuro será reconhecido e laureado como o fenômeno sócio midiático econômico que é.



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