Por que o Samba Abstrato é necessário?

 

Por que o Samba Abstrato, é necessário?


Escrito por Karina Souza 


Quando sentei para escrever esse texto, me lembrei do livro Genocídio do Negro Brasileiro de Abdias de Nascimento, que é um dos patronos da comunidade do Samba Abstrato, mas antes de prosseguir, se você que acompanha o Blog e não sabe o que é o Samba Abstrato, calma aí, que vou explicar. 

Samba Abstrato é uma comunidade existente no Facebook, que explicita o racismo. A linguagem da página é o humor, um humor  que faz os apontamentos necessários sem ofender a pessoa que está infringindo o bom senso.

Em sua sétima temporada, a página é um espaço de denúncia, além de ser um espaço didático. É através da página que algumas pessoas, puderam ter a noção da expansividade do termo apropriação cultural, que vai além da branca usar tranças.  Samba Abstrato, mostra a nuance, é para além do que se vê.


E porque essa página deve existir

 

O Samba Abstrato discute abertamente um hábito muito comum na sociedade, o de apropriar e de dar novos significados a tudo que é feito e realizado pelo povo preto. A Historiadora e Educadora em questões étnico-raciais  Suzanne Jardim, tem uma fala que encaixa bem, nesse momento, em que se fala de apropriação e racismo.

 

“O fenômeno acontece quando um estrato social historicamente dominante marginaliza uma etnia, religião ou cultura, tornando seus símbolos e práticas abomináveis aos olhos da sociedade. Com isso, o grupo marginalizado abandona tais práticas, como uma forma de se adequar, na tentativa de sofrer menos preconceito. Com esse processo concluído, o mesmo grupo responsável pela marginalização passa, então, a ressignificar essas práticas e símbolos antes condenados, tentando torná-los atrativos para a maioria da população e visando o lucro. Nesse processo, toda a essência simbólica dos elementos é perdida. Eles passam a ser apenas objetos de desejo, cada vez mais caros e inacessíveis para os que foram primeiramente hostilizados”.

 

É nessa época do ano que musas abstratas decidem que podem ser mulheres pretas, apropriando se da sua estética, ocupando lugares (comprando ou não) e assim contribuindo com um ecossistema racista.  


Painel Bap




Mestre Candeia com sua genialidade já havia levantando essa bola, inclusive sobre os carnavalescos brancos dentro das agremiações, que é outra problemática que o samba enfrenta até hoje. O homem foi visionário, Salve Candeia.

É a única pagina carnavalesca que fala abertamente das questões raciais presente no carnaval. E como fazem isso? De uma maneira organizada como um barracão de escola de samba e pautada nos valores de uma comunidade preta.

Assim como um barracão da escola, a velha guarda da página é composta por: Candeia, Abdias do Nascimento, Clementina de Jesus, Geraldo filme dentre outros. Os administradores da página sempre escrevem entre um comentário ou outro, em que eles se inspiram. 

Ao passear pela página é fácil de identificar através das #(hastag) os departamentos da página como por exemplo:

#aladosmemes

#Sacabstrato

#squadjurídico...


E tudo isso e muito mais acontece partindo da escolha da musa abstrata da temporada vigente. As musas abstratas que sempre passam pela página são anônimas e famosas, mulheres brancas que não sabem sambar, mas está a frente da bateria da escola, que é um lugar de maior destaque e é aí que tudo começa.

A sétima temporada do Samba Abstrato esta off no Instagram mas efervescente no Facebook para acompanhar, clica aqui. E se ainda não fez o Enem Abstrato, corre la na página e faça esse divertido quiz.

E por fim, sonho com o dia, que o Samba Abstrato, ser além-carnaval eixo RJ/SP e falar sobre o axé, maracatu e até mesmo sobre a Rute minha vizinha, que todo ano no carnaval lembra que tem um parente preto na família, tipo seu tatataravó, tudo  pra tentar me convencer da sua negritude,  conquistada a base de bronzeamento artificial, tranças soltas e escorregadias e vestida por uma bata africana.





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