Nove coisas que pessoas brancas podem fazer para apoiar a luta preta


Cansou de ser chamado de biscoiteiro, apropriador, colonizador e racista? Eis a solução



Não vamos fazer um parágrafo explicando o que o racismo significa para a evolução do homem na terra e a quantidade de problemas sociais e humanos que foram criados junto com a ideia de que algumas pessoas são superiores a outras.





Todos estão cansados de saber que há pelo menos dois mil anos a cultura branca vem perseguindo, usurpando, estuprando, desprezando, colonizando tudo o que é não-branco e a vida na terra tem sido uma grande merda por causa disso.


Não vamos nos estender dizendo que a participação dos brancos que dizem não serem racistas é essencial para o fim do racismo como prática cotidiana porque isso é óbvio. Primeiro porque os racistas são brancos, então meio que é algo que vocês tem que resolver entre vocês, e segundo porque brancos que não são racistas e que querem de fato contribuir para acabar com esse inferno, muitas vezes parecem que não sabem que a relação deles com tudo o que é não-branco é extremamente problemática e isso se dá por ideias que vocês mesmo criaram. É meio confuso mas resume-se em: racismo é um lance meio que de branco mesmo.


Mas como de boas intenções o inferno tá lotado, nove coisas que brancos podem fazer para apoiarem a luta preta.


1 - Ouvir


Quando uma pessoa preta estiver falando apenas não abra a boca. Tente, é fácil. Claro que quando alguém disser que foi enquadrado 58447 pela polícia você vai se lembrar daquela única ocasião acontecida em 1987 quando a polícia te parou com seus primos, mas cale-se. Fique em silêncio e ouça. Para controlar a sua língua você pode fazer o exercício de ficar bem atento ao relato e se concentrar em tentar imaginar e o que a pessoas sentiu e assim praticar a empatia. Ou apenas não abra a boca.


2 - Participar na moral


E com participar eu não quero dizer roubar, dizer que é seu, desqualificar a origem, apropriar. Participar é fazer parte, vir com humildade, pensamento crítico e amor no coração. Chega de guerra. Mil nos não são mil dias. Para você ouvir seu sambinha e dizer que é do Brasil, muito preto teve que ser perseguido e morrer, então sinta-se bem-vindo a participar, mas respeita e chega bem devagar.


3 - Oferecer mão de obra


Por exemplo, ao invés de ir no Aparelha Luzia e ficar rodando no meio do salão porque você ama música de preto e tirar o protagonismo de um espaço preto, porque não oferecer sua mão de obra? Varrer a calçada, pintar o muro, concertar algo, oferecer serviços gratuitos à comunidade. A revolução tem bastante louça e banheiro para lavar, sua colaboração será mais que bem-vinda.




4 - Se acostumar a não ser o centro das atenções

Quando você é branco vive em um mundo criado para você. Tudo no planeta foi feito para você. Se você quiser comer carne de animais todos os dias e impor essa alimentação para o resto do mundo, haverá uma indústria que destruirá o planeta para satisfazer sua vontade. Se você quiser ver uma pessoa como você, basta ligar a televisão, ou assistir um filme e se sentirá perfeitamente representado e incluído.

Mas as coisas mudam, sabem? Você não pode mais pensar num mundo onde você é o centro das atenções, que seus problemas não os principais, e daí vai ter que se acostumar com uma nova realidade onde a sua opinião não é a mais importante e você terá que ceder seu protagonismo "natural" para os outros. Pode ser duro para você acostumado a ser o centro de tudo, mas lembre-se, é pela felicidade de todos, inclusive a sua.


5 - Revolucionar sua linguagem


Se você acompanhou o ainda não terminado 1º Curso de Linguística e Semiótica Aplicada a Tretas de Internet sabe muito bem que a primeira revolução é a da linguagem. Já ouviu falar em branquismo? São as marcas de comportamento e linguagem de pessoas brancas em relação com pessoas não-brancas. Então antes de proferir uma frase pense: se retirada do contexto essa frase poderia ser dita durante a escravidão? Se sim, não diga. Melhor coisa.


6 - Reeducar-se


Qualquer pessoa humana que iniciou seus estudos em uma escola analógica de ensino linear dialético em meados do século passado, tem a obrigação moral de se reeducar. Originalmente a internet tinha como objetivo, digamos, conectar as culturas do mundo e compartilhar o conhecimento humano. Mas daí veio a internet 2.0, as pessoas chegaram e o carácter cultural da internet fico remediado ao segundo plano, depois do entretenimento. Mas isso em nada tira a responsabilidade que você tem com você mesmo. Chega a ser patético você ter um celular com internet e dizer asneiras do tipo "pretos venderam pretos para a escravidão" ou achar que a bíblia é livro de história. Vai se educar!

7 - Não querer biscoito


Não se explique, apenas haja. Não use sua militância, apoio ou amor pela cultura preta como proteção para ser racista. Sério, isso rola muito. Não queira biscoito, não queira aplauso, abraço por fazer a sua obrigação. Sabe just do it? É isso.

8 - Bitch dont kill my vibe


Não seja o bitchdontkillmyvibe do rolê, não queira debater racismo o tempo todo, não queira mostrar que sabe, conhece, participa. Não queira ser aceito, não queira biscoito for real. Apenas seja autêntico e consistente.


9 - Show me the money


Por exemplo: faz de conta que você é branco e quer agorinha fortalecer a luta preta, ser o descontruidão da porra, o nós por nós. Por que ao invés de fazer dread no cabelo você não pega esse dinheiro e doa para um projeto preto no Catarse ou Vaquinha? Quer outra forma ainda mais rápida de fortalecer de verdade o movimento? Se inscreva no Painel BAP, participe de pesquisas de mercado remuneradas e fortaleça o afroempreendedorismo.


Viu como é fácil? Não precisa nem amarrar um pano na cabeça, nem sair de biquini numa escola de samba. Just do it.



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Educando pessoas brancas desde 2008