Como aprender a falar Inglês 2

Dicas de uma poliglota


O primeiro post  Como aprender a falar Inglês 1 foi o maior sucesso. Bom saber que muitas pessoas estão sérias no objetivo de aprender ou aprimorar suas capacidades linguísticas.

Aprender um novo idioma, seja ele qual for, é abrir uma janela de oportunidades na nossa vida pessoal, social ou profissional. E não importa quanto tempo você tenha para estudar, o importante é estudar sempre. Afinal, você vai falar o idioma pro resto da sua vida, não é mesmo? E isso é algo bom, porque estudar é divertido. Esqueça o modelo dialético linear das escolas com suas grades curriculares, horários e formatos. Crie, desenvolva, invente o melhor método para você e enjoy it.



Hoje as dicas são um pouco mais teóricas, vale a pena ler até o final.




Função fática da linguagem 

A meu ver é o um dos assunto mais importantes do aprendizado de um idioma e que é pouco e nada falado nos cursos de inglês da vida: a função fática da linguagem.

A função fática da linguagem tem por finalidade estabelecer, prolongar ou interromper a comunicação. É aplicada em situações em que o mais importante não é o que se fala, nem como se fala, mas sim o contato entre o emissor e o receptor. São atos realizados no decorrer  do  discurso  que  visam  prolongar  a  conversação,  cativar  o  interlocutor  ou  mostrar-se culturalmente dentro de um ato de comunicação (Malinowski).

Se você prestar atenção a sua fala por alguns minutos vai ver o quanto utiliza os conectivos e casos fáticos. São  sons, gestos, palavras, partículas não verbais que expressam a  faticidade no ato da comunicação. O que está dotado da propriedade fática,  não é  a  mensagem linguística (em si),  é  o  comportamento do  indivíduo na sociedade. Em outras palavas, o que Jakobson chamou de função fática é, apenas, a tradução, a nível  linguístico,  da  faticidade/polemicidade  intrínsecas  ao  relacionamento  interpessoal  (Lopes,1978:95)*

Exemplo (os casos fáticos estão em negrito):

- Opa, tudo certo? Me vê três pães, por favor.
- Então, eu já tinha falado com ele...
- Escuta, você vai pagar sua dívida,
- Que horas são? Éeee.... São três em ponto.


Em português, um conector muito usado para se ganhar tempo entre a construção de um raciocínio é o Éeee /é/

- Por favor, onde fica a avenida Paulista
- Éeeee... Então, você pega a direita e depois do sinal, é a avenida em frente

Neste exemplo usamos dois conectores o éee e o então. Você percebeu que ambos não tem valor semântico? Eles serve apenas para que criar ou estabelecer o ato de comunicação enquanto pensa em como expressar sua ideia. Pois bem, muitas vezes o aluno acaba utilizando o fático em português mesmo falando em inglês (prometo que um dia vou publicar minha tese para que vocês possam entender bem). Aí fica assim:

- Excuse me, where is the next subway station?Éeee /é/... I think it is in the next corner

O que acontece nesse caso é que o erro no fático causa uma ruptura no processo de compreensão do interlocutor. Claro que ele pode até entender o contexto, mas sabe quando você está no celular e a ligação fica cortando? Dá até pra ter uma conversa, mas não por muito tempo pois as interrupção atrapalham o entendimento. É a mesma coisa.

O melhor, ao invés de usar o Éeee /é/ seria usar o  Ahhh /ə/

- Excuse me, where is the next subway station?
- Uhhh /ə/... I think it is in the next corner.


Esse som fático e fonema mais comum na língua Inglesa americana é chamado schwa e atende perfeitamente a sua necessidade de ganhar tempo sem cortar a conexão e ser coerente ao inglês. Tudo isso nos leva a uma outra teoria falada no artigo anterior:


A persona linguística


Essa (espero que seja) é uma teoria exclusiva e original aqui do Efigenias. A persona linguística é uma tese baseada na obervação de que em diferentes idiomas e culturas linguísticas, o indivíduo adquire personas diversas. Ficou complicado? É assim, você é uma personalidade dividida em várias personas: estudante dedicado, trabalhador esforçado, torcedor do SPFC, mãe cuidadosa, etc. Em cada situação você pode apresentar uma diferente persona de acordo com a sua necessidade. Por exemplo, é muito comum atores terem uma persona tímida em sua vida privada, mas no palco assumirem uma persona artística extrovertida.

Então, agora que você já sabe o quanto é importante adotar uma variação linguística e como é importante utilizar os casos fáticos dessa cultura linguística, invista na sua persona! Construa sua personalidade em inglês. Veja a diferença entre  o inglês britânico e americano:


Quanto mais coerente sua persona for à variação linguística adotada, mais consistente será sua fala e compreensão.

Como fazer isso? Minha dica é: copie alguém. Isso, copie um personagem, uma pessoa que você gosta. Sabe o famoso fake until you make it? Um exercício que eu gosto de fazer é assistir  a uma série, por exemplo, minha favorita do momento Suits. Ela se passe em NYC, que é minha variação linguistica preferida. Eu pego um episódio e assisto com legenda em inglês e copio um dos personagens (em geral Donna ou  Jéssica) e repito tudo o que ele fala, da forma que é falado, os trejeitos, fáticos, tom da voz. 


Eu sei que parece coisa de louco, mas aprender é se arriscar, não é mesmo?


Acho que chega por hoje, nos próximos posts vamos falar de:
  • Vocativos
  • Rachel's English
  • Fonética
  • Always say yes


 :: Efigenias  ::

If you know what I mean



* Trecho da dissertação defendida na Universidade Paris III em 2011; "A função fática da linguagem: da Gramática Universal ao sistema trinário de expressão dafaticidade nos diálogos bilíngue"