Guia das falácias racistas 1

Como detectar argumentos falaciosos num debate sobre racismo



Este pode até parecer um blog de zuera, e é. Mas acima de tudo, o Efigenias é um blog sério de linguística aplicada, lógica formal e de pensamento avançado. No post de hoje vamos falar sobre as falácias utilizadas nos discursos racistas e branquistas que nos deparamos diariamente. E que esperamos que sejam periódicos #oremos


O que são falácias?

Falácias são argumentos que parecem corretos, válidos, mas na verdade não são. Um argumento é falacioso quando linguisticamente o raciocínio tem aparência de verdadeiro, mas na verdade é falso em sua essência. É a famosa ideia fraca, sem substância, sem sustentação. 

Sabendo que pequenas mentes menos atentas podem até não perceber sua presença e validar ideias rasas, criamos este guia. Quem vai nos ajudar é o nobre Stephen Downes e seu Guia das Falácias*. Recomendamos a impressão deste artigo para ser colado na geladeira para futura consulta. 


5 tipos de falácias aplicadas a discursos racistas e branquistas

Válidos também para ideia reacionárias, preconceituosas, coxinhescas em geral.




1 - Derrapagem (bola de neve)

Para mostrar que uma proposição, P, é inaceitável, extraiem-se consequências inaceitáveis de P e consequências das consequências. Exemplo:

"Se o cara receber bolsa-família, ele não vai querer trabalhar mais" 
"A adoção de cotas baixa o nível da universidade"

Resposta: Por que estas serão as consequências? Baseado em que se afirma? É possível provar? ? Se afirma isso a partir de quais dados? Ou seja, mostre que não há contigência entre o fato e a consequência.


2 - Apelo às consequências (argumentum ad consequentiam)


O argumentador, para "mostrar" que uma crença é falsa, aponta consequências desagradáveis que advirão da sua defesa. Exemplo: 


"Ações afirmativas tornam a sociedade ainda mais racista."


Resposta: Ainda mais racista? Caramba,pensavamos que já tinham alcançado o limite máximo de preconceito, segregação e violência. De qualquer forma, o argumento não é válido pois a realidade não necessariamente vai se adaptar ao desejo mais profundo do autor da fala, não é mesmo? Porque uma pessoa que fala isso está deixando bem claro como vai agir diante dessa realidade.



3 - Apelo a Preconceitos


Termos carregados e emotivos são usados para ligar valores morais à crença na verdade da proposição. Exemplos:


"Pessoas negras trabalhadoras e esforçadas certamente são contra a política de cotas"


Resposta: Observe a tentativa de manipulação semântica intensiva: "pessoas trabalhadoras e esforçadas" são contra. E os que são a favor, são o contrário delas? Discordar de uma ideia não faz de uma pessoa menos trabalhadora ou esforçada do que outra que concorda.


4 - Apelo ao povo (argumentum ad populum)


Com esta falácia sustenta-se que uma proposição é verdadeira por ser aceita como verdadeira por algum setor representativo da população. Esta falácia é, por vezes, chamada "Apelo à emoção" porque os apelos emocionais pretendem atingir, muitas vezes, a população como um todo. Exemplos: 


"Ah, mas o povo brasileiro é miscigenado, um povo amigável. Não existe racismo no Brasil"
"Somos todos iguais, filhos de deus. Não é certo fazer uma separação por cor, se somos todos irmãos em cristo". 


Resposta: Tentar sensibilizar e manipular a pessoa usando palavras e ideias que sabe que são aceitas por uma grande maioria. Ser miscigenado, amigável e cristão nunca impediu o branco brasileiro escravizar por 400 anos, segregar e usurpar tudo relacionado ao preto. Quem está de fato interessado em ter uma discussão, tem que deixar os apelos afetivos e religiosos de lado.


5 - Apelo à autoridade (argumentum ad verecundiam)


Ainda que às vezes seja apropriado citar uma autoridade para suportar uma opinião, a maioria das vezes não o é. O apelo à autoridade é especialmente impróprio a pessoa não está qualificada para ter uma opinião de perito no assunto.

Essa falácia é bastante encontrada em tudo o que o Pelé e bastante do que o Morgan Freeman falam sobre racismo. Eles são pretos e são celebridades, mas isso em nada faz deles mestres do debate anti-racista. Em geral, suas ideias não passam de meras opiniões insignificantes, mas sempre tem um meme rolando e fica parecendo que eles são grande pensadores do assunto.


Em breve mais exemplos de falácios e papinhos furados em geral.  Leia aqui o Guia das falácias racistas 2.



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